Câncer:
"Número de brasileiros mortos certamente será muito
grande"
De acordo
com informações do Instituto Nacional do Câncer
(Inca), 1 milhão de novos casos de câncer surgirão
no Brasil nos próximos dois anos. Desses, apenas 60% serão
tratáveis, como informou o médico e uma das principais
autoridades brasileiras em câncer Paulo Marcelo Gehm Hoff. Ele
é o atual médico do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e já teve entre seus pacientes a presidente Dilma Rousseff
e o ex-vice-presidente José Alencar.
Em entrevista
à Radioagência NP, Hoff afirma que a urbanização
e o estilo de vida da população são fatores que
aumentam a incidência de casos. Ele também relata que a
verba do governo federal destinada ao tratamento da doença ainda
é insuficiente “para se ter uma rede de atendimento ideal
para a população.” Além disso, o médico
afirma que há possibilidades do uso excessivo de agrotóxico
nas lavouras do Brasil ter relação com o aparecimento
do câncer.
Radioagência
NP: Doutor Hoff, o Inca divulgou informações que, nos
próximos dois anos, 1 milhão de novos casos de câncer
serão diagnosticados. Esse número poder ser considerado
real?
Paulo Marcelo
Hoff: Ele está muito próximo da realidade, mesmo sendo
uma estimativa. Infelizmente, o que estamos vendo é uma tendência
ao crescimento de casos no país como um todo. Isso não
é surpresa, por conta do envelhecimento da população.
Eu não só acredito nesse número, como acho que
nós devemos nos preparar para um aumento significativo de incidência
da doença nos próximos anos.
Radioagência
NP: E qual seria o motivo deste aumento?
PMH: A urbanização
excessiva nos trás grandes benefícios e grandes problemas.
Nosso estilo de vida não é muito favorável à
prevenção de câncer ou doenças cardiovasculares.
É importante que a gente tente trabalhar nosso estilo de vida
para mudar o nosso risco.
Radioagência
NP: O senhor informou em outras entrevistas que somente 60% dos casos
são tratáveis. Isso significa que teremos um número
alto de óbitos em função da doença?
PMH: O número
de mortes certamente será muito grande. Nosso esforço
não deve ser somente para melhorar o tratamento, mas também
tentar diminuir a curva de incidência. Ou seja, tomar atitudes
que daqui muitos anos façam que o número seja menor que
o antecipado de caso e, consequentemente, o de morte.
Radioagência NP: O percentual de cura varia entre os pacientes
do SUS e as pessoas que buscam atendimento em hospitais privados?
PMH: A estimativa
de 60% é geral. Mas, infelizmente, sabemos que em nosso país
tem uma variabilidade de qualidade de atendimento muito grande. É
natural que em alguns lugares os números se aproximem dessa realidade.
Porém, em outros locais infelizmente não, a chance de
cura é menor que essa.
Radioagência NP: O governo brasileiro tem dimensão desse
problema?
PMH: O governo
federal tem demonstrado conhecimento, pois aumento a fatia do orçamento
do Ministério da Saúde destinado ao tratamento de câncer.
O problema é que mesmo havendo um aumento substancial, esses
recursos ficam aquém do que seria necessário para ter
uma rede de atendimento ideal para nossa população.
Radioagência
NP: O Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxico.
Existe alguma relação entre câncer e agrotóxico?
PMH: Nem
todos os agrotóxicos causam câncer, embora alguns causem.
O importante é não colocar todos os agrotóxicos
como sendo a mesma coisa. Existem agrotóxicos perigosos. Têm
agrotóxicos cancerígenos e outros que não são.
O importante é eliminar o uso daqueles que causam mal a saúde.
Radioagência NP: Pesquisadores como o médico Wanderlei
Antônio Pignati, e a médica e especialista em câncer,
Silvia Regina Brandalise, que afirmam que o uso excessivo de agrotóxico
está relacionado com os novos casos da doença. O senhor
compartilha dessa ideia?
PMH: Seria
simplista da minha parte culpar o agrotóxico pelo aumento da
incidência. Mas, certamente existem produtos químicos que
são carcinogênicos, que podem levar a formação
de câncer. Acho importante não jogar todos os produtos
na mesma categoria, porque eles são diferentes. É muito
importante que a gente tente usar o menos possível esses produtos.
O problema que temos é que para fazer a produção
de alimentos suficientes para a humanidade é quase impossível
fazer isso sem o auxílio dos produtos químicos. O segredo
é como melhorar esses produtos para fazerem menos mal a saúde
e tentar ao máximo diminuir os efeitos nocivos. Mas concordo
com eles que há possibilidades dos produtos químicos terem
relação com o aparecimento do câncer.
Radioagência
NP: E como trabalhar o tema do câncer com a sociedade brasileira?
PMH: Primeiro, deve haver uma compreensão que o câncer
não se forma do dia para a noite. A maior parte dos casos leva
mais de uma década para se instalar. Devemos começar atuar
cedo na juventude, mudando nossos hábitos, tendo hábitos
de vida saudáveis para se protegerem do câncer que os atingiriam
daqui dez ou 20 anos. Essas mudanças seriam: evitar o fumo, álcool
com moderação ou evitá-lo completamente, evitar
exposição solar excessiva, praticar esporte regularmente,
ter uma dieta rica em frutas e verduras, sexo seguro para evitar transmissão
de vírus, entre outros.
De São
Paulo, da Radioagência NP, Danilo Augusto.
08/12/11
Fuente:
http://radioagencianp.com.br/10432-Cancer-Numero-de-brasileiros-mortos-certamente-ser%C3%A1-muito-grande